Mais trechos de prosa escrita por Fernando Graça (2015-2016)

Chegamos. Rondamos a morta órbita, relva de crepúsculos. Calças: Vale: Vícios: Existência. Deste lado teríamos abismo como assunto túrgido. Enfim, Fernando, teus 22 anos se perpetuam em rosa com a órbita - descendência da única tomba de Hamlet - como aqueles que não se salvam. A órbita cria outras ruas e nelas se enredam grinaldas, janelas, debruçados rapazes, balbúrdias, travesseiros velhos, perdão, pena furtiva, mágicas do escuro, chávenas, alísios, enfermos, sorvetes, tigres do contendo, vozes que germinam do terraço, reverentes, soberbas, paixão ao antigo, saberes, envelheceres, cacos empalhados, ventos desovados, esfomeados, singelos, tempoutros, câmaras amarrotadas, rio, titubeios, motéis do riso, ternuras mortas, corpos que ousam, que se atrevem, mulheres indormidas, lânguidas imagens, turvas paisagens, palavras cobertas, indecisões, colunas do medo, idiotas chorosos, alvos da manhã, penumbra das pedras, temperos e infâmias, madrugada entre Limoges, noites no Trianon, tedioso vulto, trêmulos sítios, príncipes do retorno, ígneas de fácil manuseio, angustiantes águas, trabalhos da bosta - TARDEI DEMAIS! - profusão de entregas que consistem em tremulares do suspiro, retalhos de dizeres, amores e luzes reprimidas, audácia seca, adolescência sob a estrela decadente, castanhas e fundilhos, controvérsias, empalhados sonhos na direção das casas, horas brancas que cintilam nesta dor tal qual homens que, no ócio, se aquietam diante da adega.

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Os fuck buddies sumiram. Sozinho quedarás masturbado. A vida, extasiada, no crepúsculo bifurca teu reverso; o rigor do ferro é teu fim. Os fantasmas dos poetas arrombam a porta. Solar/rabiscos herméticos/de boina está flébil, ele-bocarra/vê um mundo de memórias retorcidas, abertas/tarde automática/a noite racha-se em meia/em mim pensar decantado e surdo aquele laborioso, o outro e ganir ganir desejo ao outro; nunca descanso em pensar, sonhei buscando depois o corpo das alturas, satoris, carne, nirvana, suor, iluminuras, bundas, ao invés de subir penhascos contigo, Rosto Incógnito de menino Deus sexysério, e Vozes que vozes pode isso?, tudo fala, deserto é música, apenas inconsolada, lugar, não com quimera que precede do lugar, não - soluçante apenas de preceder o princípio - inconsolada, vozes que acuam no alçar e quebram, música depois do repousar e não repouso, não música princípio clamoroso lamento, princípio do agora, palavras estridentes, irritadas, vozes disso, vozes daquilo, perecem, perecem, apodrecem, pode isso?, no seu tropeçar, no céu tropeçam, querem sempre muita coexistência, escorregam, imprecisão, mas a música se move perpetuamente, move perpetuamente de vez, querem funérea carga sob depois do perdurar, não, antes, lá, quietas, carga, não no silêncio, tropeçam, e a imprecisão, desejável de glórias, encontra em falso minha reflexão do ódio de dormir, ébria de estação e sombra enganadora, amedronta o marcado da vida, doentio o Eu suicida - terror horror ardor naturais e gloriosas em afrontar o agora, afrontar o agora, é preciso afrontar o agora, preencher o vazio de sons e palavras, e persistir, persistir, insistir, não desistir, porque se faz do espelho o terror numa lei, por falso vir do que posso furtivo - armar dias rudemente pacientemente armar porque voltou da decisão, descontentamento do terror próprio ao que rudemente nos aposentos ameaçavam minha fronte: em casa estão amorosos e nenhuma formação da Obra, essa em que a estação hórrida de paz cuspiu em livros empoeirados, ejaculando neles, e gerou insultos em nossos males e nuvens que parecem formar corações.

Egon Schiele, O Poeta

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z.o.n.z.o.e.s.t.a.v.a.e.a.b.o.c.a.r.i.a.d.i.a.n.t.e.d.a.c.a.v.e.i.r.a.q.u.e.e.u.e.r.a.o.u.v.i.r.i.a.a.s.e.r.d.e.n.t.r.o.d.o.s.c.a.i.x.õ.e.s.e.m.q.u.e.m.e.p.u.n.h.a.m.n.ã.o.e.u.a.i.n.d.a.m.a.l.n.a.s.c.i.e.h.á.a.i.n.d.a.u.m.p.o.e.m.a.d.e.n.t.r.o.d.e.m.i.m.ú.m.i.d.o.q.u.e.r.e.n.d.o...s.a.i.r...h.á.a.i.n.d.a.a.l.g.o.i.n.c.o.n.c.l.u.s.o.q.u.e.s.e.i.q.u.e.v.e.r.e.i.q.u.a.n.d.o.a.b.r.i.r.os.o.l..h.o.s...e.s..t.e.s...o.l.h..o.s...e...a....b.o.c.a...r.i.a...p.o..r...i.s.s.o...d.i.a.n..t.e...d.a...c..a.v.e.i.r.a....q.u.e...e.u....e.r.a...o.u...s.e.r.i.a...d.e.n.t.r.o...d.o.s...c.a.i.x.õ.e.s...e.m...q.u.e..m.e...p.u.n.h.a.m..n.ã.o...e.u...a.in.d.a...m.a.l...n.as.c.i...e...h.á...a.in.d.a...u.m...p.o.e.m.a...de.n.t.r.o...d.e...m.i.m...n.e.f.a.s.t.o...b.o.m.b.a...a...de.s.t.r.u.i.r...c.r.o.m.o.s...s.o.c.i.e.d.a.d.e...p.r.e.s.sõ.e.s...á.r.e.a.s...e.x.t.e.r.n.a.s...e.u...a.l.i...z.o.n.z.o...e.s.t.a.v.a...d.e..p.é...s.o.b.r.e...o.s...p.á.t.i.o.s...a.s...r.u.a.s...o.u.seria.d.e.b.a.i.x.o.d.a.s.r.u.a.s.p.á.t.i.o.s.o.u.s.e.j.a.d.e.n.t.r.o.o.u.s.e.r.i.a.f.o.r.a.o.u.seria.os.pátios.ruas.dentro.de.mim.mal.saber.não.saber.embora.se.saiba.através.da.intuição.que.eu.ria.por.dentro.lábios.sérios.mas.por.dentro.ria.boca.fechada.mas.por.dentro.ria.como.as.caveiras.riem.sem.rir.um.riso.externo.de.bocas.abertas.lábios.de.ponta.a.ponta.sorriso.até.a.orelha.eu.ria.mesmo.ri.a.fun.do.pe.los.pá.ti.os.e.ru.as.eu.ri.a.es.tan.do.sen.ta.do.eu.i.a.es.tan.do.sen.ta.do.co.mo.sa.ber.co.mo.fa.zer.se.não.a.tra.vés.do.pa.pel.as.sim.eu.po.e.ta.ri.a.mes.mo.sem.me.con.for.mar.com.a.se.me.lhan.ça.das.pa.lav.ras.e.das.coi.sas.sa.ben.do.em.bo.ra.que.pa.lav.ras.não.subs.ti.tu.em.coi.sas.sa.ben.do.em.bo.ra.que.coi.sas.não.subs.ti.tu.em.pa.lav.ras.sa.ben.do.que.u.ma.se.en.gen.dra.na.ou.tra.que.u.ma.lan.ça.A.ou.tra.e.vol.tam.a.se.en.con.trar.e.se.con.fron.tam.e.se.per.dem.no.va.men.te.e.se.en.ve.re.dam.e.se.ar.re.me.dam.e.so.bra.na.da.tu.do.é.na.da.tu.do.se.re.duz.so.me.tu.do.sos.se.go.da.bus.ca.pe.la.pa.lav.ra.úl.ti.ma.da.bus.ca.pe.lo.go.zo.in.fi.ni.to.da.bus.ca.pe.lo.deus.ú.ni.co.da.bus.ca.pe.lo.a.mor.per.pé.tu.o.da.bus.ca.pe.la.i.lu.mi.na.ção.fi.nal.en.con.tro.com.o.não.ne.nhum.com.o.nun.ca.na.da.ne.nhum.a.ca.ba.tu.do.blac.kout.nem.mes.mo.o.ser.nem.mes.mo.nada.nem.mesmo.o.nada.nem.mesmo.a.linguagem.nem.mesmo.o.dizer.nem.mesmo.o.pensar.nem.mesmo.o.sentir.como.na.hora.em.que.dormimos.mas.n.e.m.m.e.s.m.o.i.s.s.o.


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(K)AF(K)Ã, por Fernando Graça
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(K)AF(K)Ã, por Fernando Graça

Não-pedi-para-nascer-mas-cá-estou-urdido-por-alguém-que-me-escreve-Cá-estamos-agora-eu-e-tu-diante-do-ENIGMA-imagen-que-não-pedi-para-ver-Já-existia-ou-passou-a-existir-agora-Ou-sempre-existiu-e-eu-que-não-via-ou-nunca-existiu-e-vi-agora-Já-existia-não-fosse-assim-não-estaria-na-escrita-dele-Não-existia-ele-inventou-e-eu-acreditei-Já-existia-ou-não-existia-As-mãos-trêmulas-As-folhas-dobradas-Se-te-olho-agora-com-olhos-sem-cor-é-porque-não-te-posso-mais-beijar-No-beijo-o-mundo-ao-redor-torna-se-arreal-E-agora-estou-perdido-na-selva-selvagem-de-Dante-Cá-estou-perdido-num-redemoinho-rosiano-e-já-levantei-todos-os-mapas-possíveis-nenhum-deles-era-o-certo-problema-borgiano-Mas-este-aqui-este-maldito-K-fode-com-meus-dias-Dois-K-Nome-sem-esfera-Só-ângulo-F-oprimido-por-dois-A-Afã-Essa-é-a-hora-mais-soturna-Essa-é-a-noite-mais-escura-em-que-não-conseguimos-mais-trepar-Deveria-eu-esquecer-essa-prosa-maldita-e-me-aventurar-em-teu-charme-Deveríamos-sair-às-ruas-e-esquecer-nossa-cama-Lutaremos-contra-inimigos-mascarados-Inimigos-anônimos-Que-talvez-sejam-ambos-nós-dois-Deveria-eu-esquecer-o-mundo-ao-redor-que-é-esta-enorme-opressão-em-que-todos-somos-escravos-alienados-Ou-será-que-isso-é-mentira-Simples-literatura-Do-mundo-vai-para-a-página-ou-da-página-vai-para-o-mundo-Já-existia-ou-será-que-Esqueçamos-pois-afinal-não-passamos-de-seres-de-linguagem-criados-por-um-Outro-incógnito-que-nos-imagina-Recriados-por-outros-que-nos-reimaginam-Estes-sim-é-que-deveriam-se-preocupar-Que-vida-de-merda-Alienada-Asfixiada-Por-eles-mesmos-Em-nenhum-canto-cabe-o-Eu-Em-algum-canto-nenhum-Atolado-na-merda-até-o-pescoço-para-Beckett-bastaria-cantar-Quando-não-se-sabe-cantar-bastaRIA-Cabe-então-um-riso-diante-do-absurdo-Cabe-um-riso-diante-dos-seres-que-nos-espreitam-Nada-faremos-Deixemos-a-questão-para-quem-vive-quem-lê-Sumiremos-na-abstração-do-final-Quem-nos-escreve-que-se-preocupe-com-o-enigma-