último poema do ano de 2015, por Fernando Graça

prevejo entre frestas
outras pedras
de desvario laborioso
entre traças e ambidestros
uns suicidas de um fosso
e intragáveis frutas
de duro caroço

criaturas em crateras
primazias já pretéritas
e grandes crises
provas fracas granas podres
crime de crucial frêmito

céu de vidro de granizo
treme terra transa crua
pobre terra triste trópico

mas o futuro imprudente
traz primavera
entre os dentes

mas o prudente presente
traz primavera
entre os dentes

- Fernando Graça. 29 de dezembro, 2015.

Lúcifer

Há alturas soberbas, danosas,
Alturas milímetras e abismos sem fim.
Alturas de perdição: vaso que rebenta.
Alturas de aventura, súbito ato
Do garoto de encontro ao rio.

Altura da fuga e da liberdade.
Saltos de medo, saltos em poços
Do engano e do erro. Clausuras profundas
Agradáveis a quem viveu excelso.

Descidas, distâncias, espessuras do alto baixo.
Elevação e queda do imensurável, caídas espirais,
Caídas retas, lentas como objeto no Cosmos.

Com olhos do avesso, subir é descer
Por caminhos íngremes de andares da preguiça
Odessa
E por alturas escuras
Altamura
E ajoelhares penosos pagando promessas.

Bomba de Hiroshima. Meteoros sobre a Lua.
Grand Jete de sublime precisão.
Pétalas na terra
E orvalho que escorrega atraído ao chão.

Alturas amenas, superfícies de pluma,
E outras espinhosas em meio aos rochedos.
E há pousos de penas, pousos de ciscos,
Algodão sem peso e felinos
Que nunca se ferem ao saltar no risco.

Há quedas indevidas como a do voo interrompido
De um pássaro atingido. E outras de propósito
Como a minha ruptura: passo a mais diante do precipício.
Assim minha altura. De encontro a sedição.
Assim minha altura. De encontro a rebelião.
Assim minha altura, truncada, desmedida,
Deixa desobediente de grande traição.