I
O monge Fernando aproximou-se de seu mestre e desabafou:
- Mestre, vivo sozinho, sou solitário...
O mestre perguntou, enquanto ambos caminhavam:
- E o que é solidão?
- Não ter amigos, não amar nem ser amado, não ter com quem conversar, não sair...
O mestre disse:
- Muito bem. E o que é não solidão?
O discípulo respondeu:
- O contrário. Ter amigos, amar e ser amado, ter com quem conversar, sair...
Por fim, o mestre fez a pergunta final:
- E o que é nem solidão nem não solidão?
Nesse momento, o monge Fernando se iluminou.
II
Durante uma outra conversa, o monge Fernando comentou com seu mestre:
- Mestre, quero ser rico.
- O que é riqueza e o que é pobreza?, perguntou o mestre.
Fernando respondeu segundo o senso comum. E então o mestre perguntou:
- E o que é nem riqueza nem pobreza?
Nesse momento, Fernando atingiu o Satori.
III
Certa vez, numa hora fatal de sua vida, Fernando indagou-se sobre a existência de seu mestre. Este lhe garantiu em alto e bom som:
- Sim, existo tanto quanto o Sol e a Lua!
- Prove!, pediu o discípulo.
- Minha voz! Minha voz é a prova cabal!
O monge Fernando respondeu:
- Em que lado da minha mente, em que lado da minha alma, sai tua voz?
IV
Em seguida, indagou-se sobre o fato de ser monge e sobre o fato de ser quem era. Ouviu então alguém lhe chamar:
- Fernando!
- Sim?
- Fernando!
- Não, este não é meu nome, pois não tenho nome nenhum!
- Fernando!
- Não tenho nome nenhum e nem não nome nenhum!
Mas a voz insistia:
- Fernando!
Ele riu e disse:
- Que besta fui, sem prestar plena atenção no agora!
- Fernando!
Nesse momento, abandonou as certezas e não certezas e sua consciência entendeu o nada e o vazio e atingiu o Nirvana.
12/08/2016