Dois Poemas sobre o Ser e o Estar, por Fernando Graça



I

Você vai morrer \\ todos vamos
ramos sem fim 
Saudade do mar \\ do mar de Santos 
mar poluído onde não se vê mais os pés
na areia
Talvez por isso \\ por isso mesmo
seja eu suspenso \ cabeça-nuvem:
Dizem Fome Passe Livre Manifestos
E eu só escrevo sobre Heidegger e Angústia.
Mostram-me indireitas, ex-querdas, descentros,
E só canto o interno.
Sou bicho bicha fraca: não vou à rua.
Foda-se o agora, estou no tempo.
Nenhum homem é uma ilha, mas somos todos desertos:
Andar uma, duas milhas, voltar sozinho,
introverso.

II

são paulo
ou
são palimpsesto?
são paulimpsesto
ao redor e uma voz
na calada da noite
por dentro desses columbários
de concreto:
memória proustiana, não
memento canibal
ouroboros metamórfico, sim
são mefistofélica no sentido goethiano
nunca se detém, quando muito há uma rua
arborizada
uma praça ignorada
mas nunca se detém, sempre em frente, nunca presente
e um descaráter (ético) sem rosto:
um rosto sem rosto
um afronto um monstro
sem essência
avesso sobreposto
Circunvago / tudo nasce sobreposto
tudo e nada / nada é tudo
solidão multidão - circunvago Travessia.
Que fagulhas agulhas arestas
aguentariam tal brecha?
tudo nasce sobreposto: até poesia.