Poemíscuo I
Desavalanche de sensações.
Que horrorcausto que eu provoquei:
tantos corpos, meu Deus, tantos corpos
queimados por meu desejo
e oferecidos ao tremor do Tempo.
Amores. Um potlatch
de muitos lábios e dolores:
no que tudo isso resultou?
Não em memória apenas,
talvez num projeto superior
algo maior
que não entrou
em cena:
essa koisa é o Poema.
Frodido
A literatura fodeu minha inocência:
do cacabaço rompido
no abrir de um livro (não de pernas)
tantos inferros e paradisos...
E eu sozinho a limpar cada canto
cada canto imundo do desmundo
explodido pelo coito de infinitas espernas.
E nos vãos desvãos das muralhas,
no virar das pedras rochas,
nos cantos recantos das terras,
em meu varrer de folhas, sacodir de panos,
ver como vi que tudo é antigo
tudo é velho
nada novo nothing virgem
Mil anos nas minhas costas.
Todos os cânones a me foderem
e a rirem de mim pelas costas.
Como Aquele que nunca se mostra.
Poética
Escrever obcecado sobre o papel
diante da Obra, súmula do Tempo:
Arte realizada e posta aí para todo o sempre
(mesmo depois do meu corpo presença)
e talvez por isso mesmo eu deva esquecer o mundo
com seus lábios toques babas tentações
para viver a vida corcunda diante da literatortura:
torres de marfim, versos e ficções
abdicar desta
para urgir outra vida
e me tornar imortal na sepultura.
© Escrito em 2015 por Fernando Graça. Todos os direitos reservados. Também publicado no Portal Cronópios em:
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